Paulo Cardim
Reitor da Belas Artes e Diretor-Presidente da Febasp
Membro do Conselho da Presidência da ABMES
Blog da Reitoria, publicado em 31 de março de 2014
***A má qualidade da educação básica pública é reconhecida por todos, até pelos poderes públicos, com as raríssimas exceções, que merecem respeito e destaque, além de servirem de exemplo, como é o caso da Escola Augustinho Brandão, de Cocal dos Alves, no Piauí.
Entre os 40 milhões de alunos da educação básica, o destaque é para poucos privilegiados, dessa e de outras escolas públicas que, talvez, não cheguem 0,01% do total dessa população escolar. Somos a 6ª potencia econômica e a 88ª no ranking educacional do planeta. É uma calamidade.
Os recursos orçamentários e financeiros adequados estão assegurados pela Constituição que, no art. 212, dispõe que “a União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino”. O 2º Plano Nacional da Educação garante 10% do PIB para a educação pública.
Cocal dos Alves é uma potência econômica do Brasil? Não. É um pequeno município da mesorregião norte do estado do Piauí, com pouco mais de 5 mil habitantes, que ocupam uma área de 288 km2, de economia predominantemente rural. Então, qual o segredo do sucesso educacional dos alunos da Escola Augustinho Brandão, de Cocal dos Alves?
Na série Educação.doc, o programa Fantástico, da TV Globo, fez uma radiografia da educação básica, apontando algumas histórias de fracasso e de sucesso. A Escola Augustino Brandão é um exemplo de sucesso, com os seus alunos obtendo dezenas de medalhas em olimpíadas de matemática e química, prêmios nacionais de astronáutica, astronomia e física e, no Enem, ficando acima da média nacional. “Em 2010, a escola aprovou todos os alunos que fizeram o vestibular. Todos”, diz com orgulho a professora Aurilene Vieira, diretora da escola. A diretora ainda informa a sua resistência às pressões políticas para o recrutamento e seleção dos professores, destacando que o corpo docente é formado por professores residentes em Cocal dos Alves e que todos passaram por capacitação em cursos da Universidade Federal do Piauí.
Além da capacitação dos professores, o ambiente e as condições de trabalho adequados o que faz a diferença para o sucesso dos alunos da Escola Augustinho Brandão, qual o “segredo”? A diretora Aurilene Vieira vai além desses requisitos tradicionais para explicar “o segredo”:
A escola tem recebido caravanas e caravanas com estudantes e estudiosos da educação para saber o que acontece aqui. Eu digo: ‘não precisa não’. Basta que cada um faça o seu papel e faça isso com engajamento. Seja professor porque você quer ser professor e não porque lhe falta opção na vida. Seja gestor porque você quer conduzir aquela escola proporcionando o melhor para o aluno, e não porque você quer fugir de uma sala de aula. Seja sistema porque você tem ideias para contribuir e quebrar os paradigmas que forem necessários.
Não é só o Estado que tem de fazer a sua parte, fato que não está acontecendo, mas os professores e gestores escolares têm que assumir a sua responsabilidade no êxito ou no fracasso de seus alunos. O exemplo da Escola Augustino Brandão, de Cocal dos Alves (PI), revelado por sua diretora, professores e alunos, merece uma reflexão mais profunda de todos nós, educadores e cidadãos. Merece, por outro lado, a atenção redobrada dos órgãos dos sistemas de ensino, para buscarem nas experiências exitosas o que merece e pode ser replicado nos campos e nas cidades, “do Oiapoque ao Chuí”, para o soerguimento da educação básica pública. Aspiração de todos nós, educadores, e necessidade primordial para o exercício pleno da cidadania e da liberdade.




